quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Problemas de Expressão

Esta noite sonhei contigo...
Sonhei que estavas a morrer, mas estavas à espera que eu chegasse a casa para te despedires de mim: "Oh minha riqueza, não chores..." - disseste quando me viste entrar.
Falaste-me calmamente, confortaste-me e, com naturalidade, fizeste-me crer por momentos que é fácil aceitar tudo o que está a acontecer. Falaste-me como provavelmente nunca mais te vou ouvir falar comigo...
Quem é que eu posso responsabilizar? Os médicos? Os hospitais? O Serviço de Saúde inteiro? Quem é que eu posso culpar? Preciso de culpar alguém... Estas coisas não podem simplesmente ter o seu direito a ser inexplicáveis e passarem incólumes! A dor é demasiada para que não responsabilize alguém, culpe alguém, faça alguém pagar ou sentir-se ainda pior do que eu me sinto! É inaceitável que eu não possa despejar toda a minha raiva e mágoa em alguém!!! ... Deus?! Hmmm, mais perto: o meu psicólogo!
No meu sonho, tu tinhas decidido morrer, tinhas preferido a morte a uma existência miserável! Será que é isso que queres, que anseias? Será que é isso que te faz ter pesadelos de noite: não a morte, mas sim a tua sobrevivência?

Podes, por favor, esperar que eu chegue a casa para te despedires de mim?...

sábado, 21 de novembro de 2009

Estava uma lesma na minha banheira!!!

Evitei escrever porque sei que a única coisa na minha cabeça serias tu! Só conseguia pensar em ti… Enquanto trabalhava, comia, tentava dormir…

Agora estou mais calma. O pânico acalmou e eu acalmei também. Agora tenho-te aqui ao pé de mim, ouço-te a dormir na paz do homem bom, puro e valente que és. Nunca te disse o quanto te amo, nunca to vou dizer, estou certa, mas também sei que o adivinhas. Há coisas para as quais nunca estaremos preparadas por mais que as tentemos meter na cabeça ou na alma. Nunca vou estar preparada para te perder e sei-o tão bem agora como sempre o soube! Pensava, e ainda penso, que esse sentimento não passa de egoísmo. Quando não queremos perder alguém, não é pela pessoa que tememos, é por nós! Nós é que sofremos a sua ausência, não o oposto. Aliás, nunca o oposto! E admito que muito menos quero perder na minha vida alguém que me ama por aquilo que eu sou. Sem complexidade, drama, teatro, sem nada mais do que aquilo que eu simplesmente sou. É um grande privilégio ser amada apenas por quem sou, pelo que sou (que na verdade é tão pouco…) e sinto muita gratidão por tamanho sentimento, também não é que tenha muita gente capaz de tamanha proeza.
Já sou grande o suficiente para saber que tudo passa… Deixei de contar o sete, como deixei de contar o doze, como deixei de contar o quinze e como deixarei de contar o vinte e quatro… Tenho a certeza disso, que vencerei tudo, vencerei todos e serei sempre a primeira a sair vitoriosa seja de que guerra em que me metam! Mas há coisas que nunca se esquecem, infelizmente! Há mágoas que nunca passam, palavras que nunca se apagam, gestos que nunca se despegarão da nossa pele. Infelizmente, sou uma das pessoas que nunca esquece. Pensava que isso era mau, amaldiçoava essa “memória” e pensava que seria tão bom se esquecesse, se deixasse de me importar… Mas quando reparo bem nos que esquecem e nos que deixam de se importar, percebo como estou a ser ridícula. Invés de uma maldição o que eu tenho é uma bênção! Se me dizem que mais nada há a descobrir, mais nada a falar, mais nada a escrever porque tudo já foi dito antes, só me posso rir da ingenuidade, ter pena da involução! Porque o meu maior mistério sou eu mesma e esse estou tão longe de desvendar. Olhar para mim, entender-me, prever-me, conhecer-me nunca me vai fazer conseguir fazer perceber os outros, prevê-los, mas isso nem sequer se coloca como um problema, bem mais se assemelha a um desafio, a um grande desafio.

Agora que estás a dormir e eu consegui finalmente a paz para conseguir escrever, penso em como vejo as coisas de forma tão diferente e, no entanto, tão mais severa do que já via antes. Os que antes desprezava, agora são-me indiferentes, a falta que me angustiava, dá-me vontade de troçar agora, a ignorância de que desdenhava é agora alvo da minha pena. Dá-me gozo ver e ouvir os que me pre-assumem e que não conseguem alcançar nunca mais do que o vislumbre das sombras na parede para onde lhes viraram a cara, um gozo tão diabolicamente delicioso que tenho medo que se torne um vício.
Ter-te quase perdido que vales tanto para mim, que verdadeiramente sustentas a minha vontade de viver, só me levou a conhecer-me ainda melhor e a descobrir dentro de mim uma verdade: o tempo que eu perco com quem quero acreditar que vale a pena. Já o disseste antes, lembro-me, agora é a minha vez de o dizer: não perco mais tempo com quem não consegue interessar.
Bem, eles, na verdade, não interessam!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vitória Relativa, Derrota Esmagadora

Feitas as Legislativas… PS ganha as eleições com uma percentagem de 36,6 (96 deputados) , PSD vem em segundo lugar com 29,1 (78 deputados), CDS-PP passa a ser a terceira força política com 10,5 (21 deputados), BE aparece em quarto lugar com 9,9 (16 deputados) e a CDU passa a ser a quinta força política com 7,9 (15 deputados).
Para Ferreira Leite “chegou a hora da verdade”, como lemos nos seus cartazes, e a senhora teve apenas mais sete mil votos que Santana Lopes, senhor que garantiu ao PSD o pior resultado de sempre e nem sequer se rebaixou a ir dar um ar de sua graça no hotel da Avenida da Liberdade onde decorreu a noite eleitoral do PSD. Luís Filipe Menezes, na sua boa educação e decência de sempre, teve a cortesia de dizer: “Tudo farei para que o próximo líder seja alguém que represente o país novo, moderno. Alguém jovem, arejado, fresco.” Se eu fosse a ex-ministra da Educação e das Finanças, Manuela Ferreira Leite, tê-lo-ia deitado no meu colo e dado umas boas palmadas naquele rabiosque de Menezes para aprender a ter boas maneiras e a respeitar os mais velhos.
Mighty Socrates bem que pode festejar com alegria: “Esta foi uma vitória da decência e da elevação em política. A nossa democracia respira bem e dá sinais de vitalidade.”: disse para todos os que quisessem e não quisessem ouvir (leia-se Manuel Ferreira Leite e Cavaco Silva). E, em relação à vitória do PS, apenas tenho algo a dizer para quem ainda não sabe: pela mão do PS entrará no Parlamento o primeiro deputado assumidamente homossexual, Miguel Vale de Almeida, eleito por Lisboa. Acho que foi a única coisa que me fez sentir satisfeita por saber.
“No Domingo seremos muito mais.” E não é que foi verdade? Valeu a pena o Paulinho ter tirado umas férias para o bronze e para o branqueamento da dentadura (ele é o verdadeiro político tunning), valeu a pena ter amuado por não lhe terem dado os 10% há quatro anos atrás, porque o povo português tem memória de peixinho (olha uma alga, olha uma alga, olha uma alga…) e resolveu dar-lhe agora os 10% como recompensa. Tão feliz que estava que nem conseguia disfarçar o sorriso, tinha uns olhos capazes de alumiar uma aldeia inteira, começou a discursar antes de o PM terminar o seu discurso de vitória no Hotel Altis.
Ora, e o caro Louçã… Estou em crer que enfrentará o pior período político da sua vida, isto apesar de ter duplicado a sua representação para 16 deputados. Como escreveu Pedro Tadeu no Diário de Notícias: “Ganhar é uma grande maçada”. Uma coisa é ajudar a aprovar uma lei sobre o casamento homossexual, outra coisa é nacionalizar a Galp ou a EDP. Aliado a este jogo de cintura exigir-se-á ao Louçã o alargamento da garganta de forma a engolir os sapos que já se enfileiram e, acima de tudo, ter o Paulo Portas não só em frente, como à frente.
Jerónimo de Sousa de certeza que chupou uns bons Kompensan antes de discursar e eu consigo entendê-lo, que também eu sofro muito do estômago, infelizmente. A ele será exigida a mesma garganta e o mesmo jogo de cintura que a Louçã, mas como Jerónimo e Louçã não se comem, até será interessante ver que novas invenções brotarão das bancadas do Parlamento.
Feitas as Legislativas, venham as Autárquicas!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rosa Choque

"Algum desgosto prova muito amor, mas muito desgosto revela demasiada falta de espírito." - William Shakespeare

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Boletim de Vacinas

Hoje, quando acabei de subir as escadas que me conduzem à entrada da porta do meu apartamento no segundo andar e tirei a carteira para passar o passe de forma a abrir a porta, percebi que algo estava realmente errado. Tive de me sentar nas escadas do prédio para me rir sem cair! No Domingo já me devia ter realizado disso depois de ter dito que 8+8 eram 10, mas mesmo assim quis acreditar que não enganando-me a mim própria: isto é cansaço… se calhar foi má ideia não ter férias este ano… Mas a verdade é que “algo” não pode estar bem. Tem sido um ano louco e sei que é irracional desejar que o ano vire, mas… Bem, eu não preciso da viragem do ano, na verdade só preciso da viragem do mês. Tudo será diferente, mais uma vez! Todos os meses a minha vida tende a mudar radicalmente e como eu gosto disso. Mas apesar de a minha vida mudar, as coisas à minha volta parecem sempre as mesmas, as pessoas sempre as mesmas, imersas na sua bílis negra.
Depois do pânico, da revolta, do medo e finalmente da aceitação do cancro, do tumor maligno que ia de certeza acabar comigo em menos tempo que tinha previsto… tudo se desmancha e tudo volta a ser mais do mesmo. Quase que teve piada! Podemos brincar umas com as outras dizendo que é a senilidade ou a menopausa que chegaram mais cedo, mas sabemos que estes 27 anos, na realidade, correspondem a muitos mais. Os anos de vida pesam-se em dor e quando penso nisso até custa a acreditar em tudo o que já vivemos, tudo o que já passámos, tudo o que já vencemos e alcançámos. Foi muito mais do que alguma vez acreditaria ser capaz de abarcar, tenho orgulho em mim por ser muito mais do que alguma vez acreditaria.
Passadas as águas, o que mais custa é perder as pessoas. Há pessoas da minha vida de quem me lembro todos os dias. Para uma pessoa tão distraída como eu, este é fenómeno exuberante! Mas é verdade, a injustiça da falta, a dor da ausência são coisas que não me passam. Tatuam-me de verdade… Um dia, fico cega com tanta coisa que vejo sem estar na minha frente!
Mas todos os dias são bons, todos os dias são saborosos! Uma viagem a Sete Rios e descobrir um alfarrabista que afinal era tudo menos desconhecido, apanhar o conhecido suburbano até ao Oriente e ver o pôr-do-sol. Sintra, teatro, cinema, jardins, Lisboa INTEIRA para mim, coisas novas, pessoas novas, experiências novas, todos, todos os dias. E, no entanto, se puder não abdicar da mesma esplanada vermelha onde tomo o café da tarde todos os dias… não abdicarei nunca! O paradoxo entre o prazer do tudo renovado e o prazer do conhecido e seguro. Saber que posso tentar o Sol a derreter as minhas asas e saber que lá em baixo estarão os de sempre para me agarrarem.
A minha vida é uma maravilha, depois da sombra da morte ter passado, parece que só coisas boas chegam a mim. Olho para os outros, vejo-os na minha vida antiga: o trabalho de sempre, a rotina de sempre, as pessoas de sempre com as conversas de sempre. Pessoas que me deixam, pessoas que me fogem, pessoas que me desiludem, casamentos que ruem, amizades que se desfazem, namoros que me horripilam… vidas que acabam… Na minha fase boa em que tudo é novo e todos os dias bebo em golfadas a surpresa, o inesperado, a independência, que me bebo a mim própria mais eu em todos os extremos que nunca fui. Eu, eu, eu em todas as minhas vertentes puras e extremistas e como nunca mais quero deixar de ser EU!
Mas depois do meu dia em que fui rainha no meu mundo de fantasia, heroína do meu Destino, dona do meu querer… nada me sabe tão bem como te encontrar, como sentar o meu à vontade à boca de cena contigo, como poder abraçar-te e ter a certeza absoluta que vou sentir o teu Boletim de Vacinas no bolso direito interior do teu casaco.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Engano

Não era de desistências. Sabia que algures, pendurada nos varais do futuro, estava a solução. Por ora, receita simples: esperar e recordar. Tudo começara naquele dia, como todos os outros dias, naquela hora de almoço, como todas as outras horas de almoço.
Chegara atrasado ao emprego porque tinha passado antes pela churrasqueira. Ao chegar a hora de almoço, dirigi-me ao parque de estacionamento, tirei o pacote de dentro do carro e segui para o refeitório.
Ninguém esperava por mim, ninguém esperava pelo almoço que trouxera. Parado no meio do refeitório, olharam-me como se fosse repulsivo. Dei por mim, com o pacote na mão a enjoar-me com o seu cheiro a carne, a entrar progressivamente em pânico ao mesmo tempo que entendia o meu engano.
Revivi: a manhã tinha sido maquinal, como todas as outras manhãs. Mas só agora via! O lugar era parecido, mas não era o mesmo. As pessoas eram parecidas, mas não eram as mesmas. Quase a gritar conclui que me enganara. Saí quase a correr do refeitório, entrei no carro e fiz de volta o caminho até casa apenas com a angustiante questão a bradar dentro da minha cabeça: Onde é que me enganei?
De volta a casa. O mesmo caminho de todos os dias. Saí do carro, tirei a chave do bolso do casaco, afundei-a na fechadura e não rodou. Insisti escusadamente. Não rodava, a porta não abria. Descontrolados pelo pânico, os meus olhos escorreram água. Foi então que vi a casa. Era parecida, mas não era a mesma. Não era a minha casa. Sentei-me no degrau da porta. Estava perdido… Mas onde é que me enganei? - perguntava-me incessantemente.
Aquela era parecida, mas não era a minha vida. Onde é que me enganei? Acordei e não encontrei a minha vida. Por que porta havia eu entrado? Tudo em redor me agoniava, a perplexidade nauseava-me.
É necessário que me concentre e que pense. Que ache a resposta, que ache o momento em que a memória foi desacertada.
Onde me enganei eu?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Viaje com a Carris

Já começou uma das minhas alturas preferidas: as eleições. Todo o país está a ser redecorado pelas cores partidárias e suas mensagens. Em suma, recomeça a palhaçada!
PS estima gastar 5,54 milhões de euros com a campanha eleitoral para as eleições legislativas e o PSD tem orçamento de 3,34 milhões. Não façamos contas ao dinheiro pois a campanha política é assunto sério e o futuro PM deste país é assunto ainda mais sério. Em vez de pensarmos no dinheiro que é gasto em cartazes e em toda a propaganda, vamos antes centrar-nos nessa propaganda e divertirmo-nos com ela.
Para minha grande alegria, reparei há dias que podemos contar com os cartazes de um novo partido: o MMS. O presidente do Movimento Mérito e Sociedade (MMS) pediu aos eleitores para mandarem os principais líderes políticos "para a Conchichina" nas eleições legislativas, apelando à penalização da "política cansada e inoperante". Como sabemos, “a 'Conchichina' é um país fictício que os portugueses têm no imaginário como o desterro", disse à Lusa o presidente do MMS, Eduardo Correia, para quem "é necessário mandar esta gente embora, para bem longe daqui" para "reformular profundamente a sociedade e a política portuguesa". Estes “novos” partidos que insistem em me fazer sorrir, podem criar uma certa confusão na cabeça dos demais, como aconteceu com uma inocente idosa que queria saber se este é "aquele partido da ex-mulher do Sousa Tavares", numa referência a Laurinda Alves, do recém-criado MEP.
Mas creio ainda ser cedo e tenho a íntima esperança que o melhor esteja a ser guardado para o fim. É verdade que adorei ver os cartazes em que Sócrates com seu olhar à Mona Lisa intimava telematicamente os contribuintes a votarem nele ao mesmo tempo que era observado de sorriso nos lábios e nos olhos por uma jovem moça… verde! Qual é que foi a ideia de colocarem a rapariga verde? É certo que todos os cartazes socialistas aparecem em tons da digna bandeira portuguesa, todos percebemos isso, mas estou em crer no meu íntimo que aquela se trata de uma clara referência ao Hulk. Se um Hulk feminino gosta do Sócrates, por lógica todo o mulherio gostará do Sócrates.
Todavia, tenho que abrir o meu coração e fazer-vos uma confissão. Encontro-me profundamente desiludida com a campanha do PSD. Mas o que é aquilo? Um partido que não tem ideologia, nem liderança, nem programa (sim, as 40 páginas não foram apenas para fazer frente às 120 páginas do programa socialista! Eles não têm mesmo mais nada a dizer: acreditem) seria de esperar que engendrasse uma boa campanha política! A Ferreira Leite numa tentativa de transparecer um ar confiante e simpático que resulta num raro esgar ao lado de frases supostamente ditas pelos portugueses, nem sequer me entretém. Ora francamente! “Portugal não pode ficar hipotecado”? Mas quem é que foi o tuga que pegou no telefone e ligou para a Linha da Amizade PSD e disse: “Eh pá, hipotecar Portugal era uma ganda má onda!”. Não creio! Como não creio em: “Prometam só o que conseguirem cumprir” pois acredito que não há português ingénuo o suficiente para dizer isto a um político, nem creio em “Olhem por quem mais precisa”. Afinal, alguém tem que pagar as contas do Estado e todos nós sabemos quem é que as paga, não é verdade?
Tenho esperança nos novos cartazes do BE pois “18 anos é muito tempo” é fraquíssimo tendo em conta que é um comentário bloquista e tenho sempre muita confiança nos cartazes do CDS-PP. Depois das suas perguntas afirmativas, tudo se resumiu à cara do Paulo Portas expressando um ar de grande seriedade: “Há cada vez mais pessoas a pensar como nós”. É engraçado que eu não consigo perceber se isto é uma afirmação, uma exclamação, uma interrogação ou uma ameaça… Bem, mas faz-me sorrir, isso sim.
Até agora os melhores cartazes em tons saudosamente nacionais do PS têm sido os mais vistos e, perdoem-me a imparcialidade, os melhor conseguidos. Sobre o lema “Avançar Portugal” e “Juntos Conseguimos” proclamam a todos os portugueses os bens atingidos: medicamentos genéricos, aumento do salário mínimo e crianças a aprender inglês. Devo estar a esquecer-me de algumas, mas como eles também se esqueceram de outras (nomeadamente: Correia de Campos, Mário Lino, Maria de Lurdes Rodrigues e Manuel Pinho) ficamos todos quites.
Gosto de passear de autocarro por Lisboa, foi viajando com a Carris que percepcionei toda esta maravilha legislativa. As histórias são mais que muitas dentro e fora do autocarro e preenchem-me o dia com devaneios, utopias, histórias de imensurável amor.
Hoje foi o dia de escrever sobre o meu amor pela política!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Yasminelle

Deus
não me deu
um namorado
deu-me
o martírio branco de não o ter.

Vi namorados possíveis
foram bois
foram porcos
e eu palácios e pérolas.

Não me queres
nunca me quiseste
(porquê, meu Deus?)
A vida
é livro
e o livro
não é livre.

Choro
chove
mas isto é Verlaine
Ou: um dia tão bonito
e eu não fornico.

[...]

Adília Lopes

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Faith No More


O melhor concerto deste Verão! Posso dizê-lo sem qualquer problema, estive lá, vi-os e ouvi-os. Lá bem à frente, vi o grande Mike Patton entrar em palco de fato, de óculos escuros e bengala coxeando e calmamente abrindo quase duas horas de boa música ao som de Reunited: melhor música para abrir o concerto não tenho em mente.
O público participou e a banda alinhou e gozou da euforia que em nós despertava! Ouvidos e cantados: Land of Sunshine, Caffeine, Evidence, com I didn’t feel a thing transformada em Eu não senti nada, Last Cup of Sorrow, Ashes to Ashes, Midlife Crisis, Epic, Be Agressive, Stripsearch, Ugly in the Morning, os conhecídissimos I Started a Joke e Easy e a terminar o concerto We Care a Lot em explosão! Por último, mas não em último, tenho de referir a minha música preferida de entre todas: Just a Man! Foi a minha vez de erguer as mãos abertas ao céu e agradecer a Faith No More. Algumas músicas escapam-me, tenho a certeza, mas o concerto ainda não saiu da minha cabeça até este momento em que escrevo, aliás é por isso que escrevo.
De todas as coisas más que aconteceram, de tudo o que agonia, enoja e enraivece, a música e a inconsequente e maravilhosa insanidade de Mike Patton lavaram a minha alma e fizeram-me sentir mais eu, mais feliz por eu ser quem sou, não ter mudado e não querer mudar quem sou.
Obrigada, my sweet hearts!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A Semântica de Deixar: requero-te

São 674 páginas sobre a semântica do verbo deixar arduamente (suponho!) produzidas por Augusto Soares da Silva.

Vá, não baixem já a janela a pensar que esta entrada trata sobre pseudo-intelectualismo linguístico. Sim, convenhamos que nada caracterizado de intelectualismo linguístico possa ser dito ou escrito sem se encontrar devidamente acompanhado do respectivo prefixo “pseudo”.

Mas voltando à vaca fria (eu, portanto): isto é interessante, pessoas! Atentem! Como é que se podem escrever 674 páginas sobre a palavra deixar? Como catalogar este admirável senhor? Muitos e variados adjectivos me ocorrem (confesso) mas revelarei apenas um substantivo como forma de assegurar a validade desta minha intervenção: respeito.

Esta não é apenas uma contribuição para a abordagem cognitiva em Semântica Lexical, esta é a História de toda a vida humana do ponto de vista de uma só palavra. Portanto, a ver vamos: se deixar pode ser entendido com uma suspensão da acção na sua acepção mais vulgar: “O Osvaldo deixou a nota de cem na mesa-de-cabeceira.”, o verbo no Modo Imperativo já aparece como um impulso para a acção: “Osvaldo, deixa a nota de cem na mesa-de-cabeceira.”. Mas deixar também pode ser entendido como uma não intervenção: “Cipriano pediu-me para ir ver um concerto de Come Restus e eu deixei-o ir.”. Apesar de conhecer o carácter susceptível de Cipriano, eu não intervim e autorizei a sua vontade. No entanto, se eu desejasse bem ao Cipriano expor-lhe-ia um discorrer de argumentos que o colocariam mais ciente do que é um concerto de Come Restus e então: “Perante a razão dos argumentos que invoquei, Cipriano deixou-se convencer.” Que é como quem diz: deixou-se levar. No entanto, deixar aqui ainda mantém o valor de não intervenção. Eu não me oponho a Cipriano em primeiro lugar e em último Cipriano não se opõe a mim, tal como o assunto não se oporá a mim se eu o deixar de lado. Do mesmo modo, se eu me deixar cair desta cadeira, também se trata de uma autorização, eu não intervenho na minha própria queda. Mas deixar o Cipriano ir ver Come Restus e deixar o Cipriano em Come Restus já é completamente diferente, acima de tudo para o Cipriano, que é um tipo sensível.

Se tudo isto vos está a deixar na dúvida, compliquemos um pouco mais o assunto. Eu amo muito o meu Anacleto, mas ele tem um defeito que não suporto em ninguém: deixa-se influenciar com muita facilidade. Ora, por isto eu estou a pensar em deixar o meu Anacleto! Podia deixar tudo como está e deixar as coisas andarem, mas ao deixar o Anacleto, vou finalmente deixá-lo em paz, deixá-lo ser quem ele é na verdade. Não o vou expulsar logo de casa, vou dizer-lhe que se deixe ficar, mas mais cedo ou mais tarde ele terá de deixar aquela que foi a nossa “toca” (a bela casa de praia que a minha avó me deixou) e deixaremos de nos ver e, eventualmente, deixaremos de nos falar. As minhas amigas dizem-me para não o deixar, que ele é o melhor homem que alguma vez encontrei, mas a minha decisão está tomada e nunca deixei de cumprir com aquilo que decidi.

Mas isto não é uma entrada sobre o Anacletinho, é uma entrada sobre deixar e não vou deixar que a divagação se ocupe de mim. Em suma, podemos observar que o verbo deixar compreende dois grupos semânticos que se opõem apenas quanto à construção conceptual do objecto sintáctico: suspender a interacção e não se opor ao que se apresenta como dinâmico. As duas categorias são funcionalmente diferentes, apesar de ambas se gramaticalizarem, mas não obstante a sua tensão homonímica, o “complexo” de deixar apresenta uma certa coerência interna (digam lá se não é verdade!). Deixar apresenta-nos um fundo imagético, exprime um processo conceptual e semanticamente marcado pela negação, deixar é um verbo onomasiologicamente saliente, não apenas nos domínios psicológico, social e moral, mas também no domínio espacial.

A significação de deixar é um processo contextual flexível e é devido a essa maleabilidade que todos nós podemos resumir a maior parte da vida humana a deixar, pois o comportamento de deixar revela, quer no uso actual, quer diacronicamente, importantes mecanismos, modelos cognitivos e modelos culturais e sociais.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Grande homem... autor de profundas e inesquecíveis críticas literárias:
"Gostava muito do Esteves Cardoso, era um gajo giro. Agora está a fazer o quê? Engordou muito, não foi?".
Autor também de sábias lições económicas, as suas palavras são ainda hoje e para sempre serão relembradas entre os grandes governantes a braços com o verdadeiro monstro que é a crise. Ouçamos:
"Repare nas minhas calças: sou o gajo das calças curtas. Porquê? Porque não mando fazer um fato desde 1957 ou 1958! E por acaso tinha um bom alfaiate, mas o último fato não paguei e nunca mais lá fui... "O gajo anda de calças assim para provocar, para se mostrar original.". Não é! Eu vejo aí é calças a três e quatro contos, e eu ia dar três contos por um par de calças? Jamais de ma vie, porra!."
Profundo amante, será sempre relembrado no coração e alma das mulheres que com ele partilharam a vida:
"Estupro é: um gajo dava uma foda e apanhava com um processo. Depois tive outro por rapto e estupro, esse era pior. Por causa dele apanhei alguns meses. Foi com a mãe do Paulo. Um tipo, depois de preso, podia negar: "Não, não fui eu, foi engano. Não era para lhe ir à cona, era só para mexer no umbigo..." Mas eu disse logo: "Fui eu!".
O único até hoje capaz da melhor tradução portuguesa do Dicionário Filosófico de Voltaire:
"Estava então a escrever como negro e a traduzir o Dicionário Filosófico (de Voltaire) para a Presença, mas quem assinava a tradução era o Bruno da Ponte. Eu tinha de o fazer porque era a única fonte de dinheiro, e numa parte ele refere-se a um daqueles malucos profetas da Bíblia que faziam uma espécie de pão com excremento de vaca. Eu estava chateado e o que é que fiz? Escrevi: "Nota do tradutor: é o que chamariamos hoje deliciosas sandes de merda."(risos) Esqueci-me, e aquilo lá saiu em nota do tradutor, que era o Bruno da Ponte. Ele ficou um bocado magoado."

Por o considerar no meu top 3 dos grandes escritores portugueses, porque me apaixonei perdida e irremediavelmente pela inigualável e inabalável personalidade que nunca conheci em homem algum, perpetuo neste modesto espaço da www a mensagem que, Luiz Pacheco, ele mesmo, proclamou para todas as gerações vindouras:
"Puta que os pariu!"

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sugus de Morango

Tardes intermináveis que acabam sempre como não desejo que terminem. Tardes intermináveis que desejo que nunca cheguem ao fim! As palavras brincam comigo no ecrã do computador, nos livros, nas bocas… Nunca as palavras que quero ouvir, nunca as palavras que deveria ouvir mesmo não querendo, palavras que não rasgam, nem remoçam, nem esventram, nem atingem.

A memória de ti estes dias comigo, olhar para ti e pensar na tua mulher e olhar para mim e pensar que eu poderia ser a mulher de alguém. A falta em interminável luta com a individualidade… Mas não! Nunca! Nunca pertencer a nada, nunca pertencer a ninguém! Mil vezes repetir se mil vezes forem necessárias: nunca mais voltar a cometer os mesmo erros! Então porquê? Porquê novamente a mesma possessão, o mesmo assombro, perdição, desilusão, raiva, mágoa e angústia, os mesmos erros?

Olhar a esquina por onde desapareceste e nunca mais tornaste. A esquina imaginária dentro da minha cabeça que não se apaga. A esquina onde me prostituo todos os dias acreditando que um dia serás tu quem me procura. O amor da minha vida, o meu marido, o homem da minha vida, a minha metade… Saudades quando ele me chamava “minha metade”, saudades quando ele me chamava “minha deusa”, “minha magnólia”, “mulher da minha vida”, “minha jóia do Nilo”… Saudades do que nunca foi mais que um sonho na minha cabeça, uma ilusão dos meus sentidos, uma bebedeira da minha racionalidade! Porque é que foste? Porque partiste? Porque tiveste de atravessar o Atlântico para eu não te ver? Porque não estás aqui, não me abraças e não me ensinas de novo a beijar? Eu esqueci o que é um beijo, e depois esqueci o que é o amor, e depois esqueci o que era a paixão, e depois esqueci o que era uma relação, até que finalmente esqueci quem eu própria era! E mesmo assim, se todos viessem, era a ti que eu escolhia, era a ti a quem entregaria a tão desejada Camelot, era a ti que faria rei para toda a eternidade! Mas nem eu largo a pedra, nem tu me puxas da pedra, nenhum torna, nenhum permito que torne, nunca, nunca mais!

Que venha toda a ânsia, toda a angústia, toda a felicidade, todos os homens e todas as mulheres.
Não largo esta pedra enquanto não for a tua mão a segurar-me, meu rei!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ao Crepúsculo

Não...
Depois de te amar eu não posso amar mais ninguém.
De que me importa se as ruas estão cheias de homens esbanjando beleza e promessas ao alcance das mãos;
Se tu já não me queres, é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando estavas comigo.
Quantas vezes sem motivo nenhum, ouvi teu riso, rindo feliz, como um guizo em tua boca.
E a todo momento, mesmo sem te beijar, eu estava te beijando...
Com as mãos, com os olhos, com o pensamento, numa ansiedade louca.
Nosso olhos, ah meu deus, os nossos olhos...
Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus.
Não era adeus no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos teus,
Era êxtase, ternura, infinito langor.
Era uma estranha, uma esquisita mistura de ternura com ternura, em um mesmo olhar de amor. Ainda ontem, cada instante uma nova espera,
Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite.
E de repente... de repente eu me sinto como um velho muro.
Cheio de eras, embora a luz do sol num delírio palpite.
Não, depois de te amar assim,
Como um deus, como um louco, nada me bastará e se tudo tão pouco,
Eu deveria morrer.

Pablo Neruda

quarta-feira, 8 de julho de 2009


Quadro de Edward Munch intitulado "A Dança da Vida". Este quadro representa as três fases da vida da mulher: a virgindade, o amor e a viuvez.
Bem, claro que não necessariamente por esta ordem, aliás, por ordem alguma que se possa estabelecer nesta vida, neste mundo. O que interessa é que este quadro é simbolista e que os símbolos com que nos confronta são de uma brutalidade desonesta que nos confronta e que sem qualquer pudor esmurra as nossas entranhas, exactamente naquele sítio inefável, cientificamente inexistente, mas espiritualmente inegável, a caverna sem fundo onde se alojam todos os fins do mundo, o lugar onde estão os nossos sentimentos. Nus, impotentemente expostos, a dança da vida valsa-nos descontroladamente. Melhor do que alguma vez poderei eu dizer: "aquilo que se faz por amor ultrapassa os limites do bem e do mal." Friedrich Nietzsche

terça-feira, 7 de julho de 2009

Style

Style is the answer to everything.
A fresh way to approach a dull or dangerous thing
To do a dull thing with style
is preferable to doing a dangerous thing without it
To do a dangerous thing with style is what I call art.
Bullfighting can be an art
Boxing can be an art
Loving can be an art
Opening a can of sardines can be an art.
Not many have style
Not many can keep style
I have seen dogs with more style than men
,although not many dogs have style.
Cats have it with abundance.
When Hemingway put his brains to the wall with a shotgun,
that was style.
Or sometimes people give you style
Joan of Arc had style
John the Baptist
Jesus
Socrates
Caesar
García Lorca.
I have met men in jail with style.
I have met more men in jail with style than men out of jail.
Style is the difference, a way of doing, a way of being done.
Six herons standing quietly in a pool of water,
or you, naked, walking out of the bathroom without seeing me.
Charles Bukowski
Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura.
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio.
Afinal o que importa não é ser novo e galante -
ele há tanta maneira de compor uma estante.
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola!
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita genteque come.
Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente
e dizer muito alto ao pé de muita gente: Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo...
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.

Mário de Cesariny

At the drive-in

Dora, a fumar que nem Afonso Henriques, acabou de anunciar ao mundo que não gosta de caril.