segunda-feira, 11 de março de 2013

Capuchinho Vermelho



“Se o Lobo Mau fosse americano teria comido a Avozinha, a Capuchinho Vermelho, o Caçador e ainda toda a Comissão de Inquérito nomeada pelas Nações Unidas para investigar o caso. Um Lobo Mau japonês faria a mesma coisa, mas com tal eficiência e discrição que ninguém daria por nada.
Imaginemos agora um Lobo Mau angolano: com toda a certeza chegava a um acordo com a Capuchinho e juntos comiam a Avozinha. A seguir o Lobo Mau comia a Capuchinho e acusava o Caçador. (…) se o Lobo Mau fosse português o mais certo era ser devorado pela Capuchinho Vermelho – e ainda deixava um bilhete a pedir desculpa.”

José Eduardo Agualusa, in A Substância do Amor e outras crónicas

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Amar-te

Dizem que o amor já não existe. Foi uma conveniência de tempos passados cuja necessidade deixou de existir.
Dizem hoje que o amor é uma sensação, uma emoção, uma ideia... um estado!

Hoje somos seres polivalentes, seres polisentimentais, policapazes-de-tudo-sozinhos.
Eu venho de um tempo antigo ou então não acompanhei a evolução humana. Porque amar-te é a maior necessidade básica e intelectual do meu ser.

O teu ser é a luz do mundo, a tua voz o som do mundo, o teu toque é o que torna o mundo real.
Tu dás valor a tudo, tornas tudo possível, tudo concretizável e atingível, acima de tudo tornas tudo desejável.

Que estranha bênção esta que os Céus me guardaram. Que bem maravilhoso devo eu ter feito para merecer como retoma esta felicidade inefável e incomensurável! E como sou grata pela tua existência, como sou agradecida e feliz por me amares de volta!

Por mais palavras em que pense, que enumere ou aglomere nunca conseguirei verdadeiramente fazer justiça ao sentimento, ao misto de sentimentos que nutro por ti. O orgulho, o respeito, o carinho e ternura, a paixão e amizade, maior que todos o amor, este amor louco e tremendo que sinto por ti. Minha perfeição humana, meu homem maravilhoso, ser de imensa beleza e graça! Amo-te apaixonadamente, loucamente, tremendamente. Come-me a ansiedade de te ver e receber nos meus braços, o chão foge-me debaixo dos pés cada vez que te vejo e o mundo inteiro desaparece, debaixo do nosso amor, e só o nosso mundo prevalece.

Sou a mulher mais feliz do mundo por te ter encontrado, sou a mulher mais especial do mundo por me amares!

Tua sempre, minha vida, meu mundo, meu Senhor!

sábado, 11 de agosto de 2012

Ainda bem que há homens assim!

As mulheres têm fios desligados - António Lobo Antunes‏


Há uns tempos a Joana
- Pai, acabei um namoro à homem.
Perguntei como era acabar um namoro à homem e vai a miúda
-Disse-lhe o problema não está em ti, está em mim.
O que me fez pensar como as mulheres são corajosas e os homens cobardes. Em primeiro lugar só terminam uma relação quando têm outra. Em segundo lugar são incapazes de
- Já não gosto de ti
de
- Não quero mais
chegam com discursos vagos, circulares
- Preciso de tempo para pensar
- Não é que não te amo, amo-te, mas tenho de ficar sozinho umas semanas
ou declarações do género de
- Tu mereces melhor do que eu
- Estive a reflectir e acho que não te faço feliz
- Necessito de um mês de solidão para sentir a tua falta
e aos amigos
- Dá-me os parabéns que lá me consegui livrar da chata
- Custou-me mas foi
- Amandei-lhe daquelas lérias do costume e a gaja engoliu
- Chora um dia ou dois e passa-lhe
e pergunto-me se os homens gostam verdadeiramente das mulheres. Em geral querem uma empregada que lhes resolva o quotidiano e com quem durmam, uma companhia porque têm pavor da solidão, alguém que os ampare nas diarreias, nos colarinhos das camisas e nas gripes, tome conta dos filhos e não os aborreça. Não se apaixonam: entusiasmam-se e nem chegam a conhecer com quem estão. Ignoram o que ela sonha, instalam-se no sofá do dia a dia, incapazes de introduzir o inesperado na rotina, só são ternos quando querem fazer amor e acabado o amor arranjam um pretexto para se levantar
(chichi, sede, fome, a janela de que se esqueceram de baixar o estore)
ou fingem que dormem porque não há paciência para abraços e festinhas,
pá, e a respiração dela faz-me comichão nas costas, a mania de ficarem agarradas à gente, no ronhónhó, a mania das ternuras, dos beijos, quem é que atura aquilo? Lembro-me de um sujeito que explicava
- O maior prazer que me dá ter relações com a minha mulher é saber que durante uma semana estou safo
e depois pegam-nos na mão no cinema, encostam-se, colam-se, contam histórias sem interesse nenhum que nunca mais terminam, querem variar de restaurante, querem namoro, diminutivos, palermices e nós ali a aturá-las. O Dinis Machado contava-me de um conhecedor que lhe aclarava as ideias
- As mulheres têm fios desligados
e um outro elucidou-me que eram como os telefones: avariam-se sem que se entenda a razão, emudecem, não funcionam e o remédio é bater com o aparelho na mesa para que comecem a trabalhar outra vez. Meu Deus, que pena me dão as mulheres. Se informam
- Já não gosto de ti
se informam
-Não quero mais
aí estão eles a alterarem a agressividade com a súplica, ora violentos ora infantis, a fazerem esperas, a chorarem nos SMS a levantarem a mãozinha e, no instante seguinte, a ameaçarem matar-se, a preseguirem, a insistirem, a fazerem figuras tristes, a escreverem cartas lamentosas e ameaçadoras, a entrarem pelo emprego dentro, a pegarem no braço, a sacudirem, a mandarem flores eles que nunca mandavam flores, a colocarem-se de plantão à porta dado que aquela puta há-de ter outro e vai pagá-las, dispostos a partes-gagas, cenas ridículas, gritos. A miséria da maior parte dos casais, elas a sonharem com o Zorro, com o Che Guevara ou eles a sonharem com o decote da vizinha de baixo, de maneira que ao irem para a cama são quatro: os dois que lá se deitam e os outros dois com quem sonham. Sinceramente as minhas filhas preocupam-me: receio que lhe caia na sorte um caramelo que passe à frente delas nas portas, não lhes abra o carro, desapareça logo a seguir por chichi-sede-fome-persiana-mal-descida-e-os-ladrões-percebes, não se levante quando entram, comece a comer primeiro e um belo dia
(para citar noventa por cento dos escritores portugueses)
- O problema não está em ti, está em mim
a mexerem na faca à mesa ou a atormentarem a argola do guardanapo, cobardes como sempre. Não tenho nada contra os homens: até gosto de alguns. Dos meus amigos. De Shubert. De Ovídio. De Horácio, de Virgílio. De Velásquez. De Rui Costa. De Einzenberger. Razoável, a minha colecção. Não tenho nada contra os homens a não ser no que se refere às mulheres. E não me excluo: fui cobarde, idiota, desonesto.
Fui
(espero que não muitas vezes)
rasca.
Volta e meia surge-me na cabeça uma frase de Conrad em que ele comenta que tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que chega tarde demais. Resta-me esperar que ainda não seja tarde para mim. A partir de certa altura deixa-se de se jogar às cartas connosco mesmos e de fazer batota com os outros. O problema não está em ti, está em mim, que extraordinária treta. Como os elogios que vêm logo depois: és inteligente, és sensível, és boa, és generosa, oxalá encontres etc., que mulher não ouviu bugigangas destas? Uma amiga contou-me que o marido iniciou o discurso habitual
- Mereces melhor que eu
levou como resposta
- Pois mereço. Rua.
Enfim, mais ou menos isto, e estou a ver a cara dele à banda. Nem uma lágrima para amostra. Rua. A mesma lágrima para amostra. Rua. A mesma amiga para uma amiga sua
- O que faço às cartas de amor que me escreveu?
e a amiga sua
- Manda-lhas. Pode ser que lhe façam falta.
Fazem de certeza: é so copiar mudando o nome. Perguntei à minha amiga
- E depois de ele se ir embora?
- Depois chorei um bocado e passou-me.
Ontém jantámos juntos. Fumámos um cigarro no automóvel dela, fui para casa e comecei a escrever isto. Palavra de honra que na janela uma árvore a sorrir-me. Podem não acreditar mas uma árvore a sorrir-me.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Em Resposta

"É muita prepotência de tua parte colocar a culpa nos outros por viveres eternamente agarrada ao passado. A um passado que não volta mais.... nunca mais e só tu não percebes isso. Acorda para a vida! Ela passa sem darmos conta! Os outros crescem, vivem, são felizes e tu, limitas-te a culpa-los da pessoa insignificante que te tornaste."

Este foi o último comentário que obtive numa publicação no meu blogue. Lamento eu e lamentam os queridos leitores que o comentário seja anónimo, ora se não fosse anónimo aí sim toda esta diversão se tornaria bem mais colorida!

Caro comentador, agradeço bastante a assiduidade de leitor às minhas singelas palavras, não deixa de nos aumentar um pouco o ego saber que alguém nos persegue. Sei que não me fica bem vangloriar-me perante o fraco espírito dos outros, mas esta ementa é demasiado deliciosa para eu e a minha megalomania a deixarmos passar.

Apesar de tudo, não posso deixar de ficar intrigada onde raio terá ido buscar a ideia que eu não sou feliz... É estranho! Lamento ter de ser eu a terminar o seu regozijo na infelicidade alheia, mas sou escandalosamente feliz! Sou uma mulher realizada profissional e academicamente, tenho um homem que me ama e que eu amo de igual forma louca e desmedida que me adora e me proporciona os dias mais felizes da minha vida (aliás, são tão bons que a única coisa que se lhes pode comparar são as noites!).

Todos nós somos compostos de passado, eu tenho imenso respeito pelo meu passado e pelas pessoas que dele fazem parte, mas não consigo ter presente um único momento onde tenha ficado presa... Não há um único aspecto que mudasse na minha vida e por isso não tenho culpas, angústias, remorsos... Lamento, mas não me posso identificar com a sua agonia. Certamente falhou na sua vida, pelos vistos falhou em grande, mas eu não tenho rigorosamente interesse nenhum na sua angústia existencial. Por isso, se puder arrastar consigo a sua vileza de espírito do meu blogue, a malta agradece. Se quiser insistir, força: estamos cá para nos rir :)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Sentido da Vida


Ver-te foi um choque, ter-te nos meus braços uma revelação!

Não podia acreditar que estavas ali, ao alcance... Podia tocar-te, beijar-te, cheirar-te... Estavas ali, ao meu alcance, és de verdade, és um verdadeiro milagre! Lavaste-me os olhos, a alma, a vida! Há alturas na vida em que andamos imersos em escuridão e dor, mas a vida tem várias maneiras de te mostrar o quão impotente e insignificante és e eis um raio de sol irrompe inesperadamente. Tu foste um raio de sol que entrou onde jurei não mais deixar entrar a luz!
Amei-te loucamente assim que te vi! Não podia tirar os olhos de cima de ti, as mãos, os lábios...
Amo-te mais do que a mim mesma, mais do que a minha vida!

És o meu milagre nascido, meu Pedrinho, és o orgulho da tua tia!

domingo, 20 de maio de 2012

E a vida responde

"Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Bukowski, my soul

“I felt like crying but nothing came out. it was just a sort of sad sickness, sick sad, when you can't feel any worse. I think you know it. I think everybody knows it now and then. but I think I have known it pretty often, too often.”