quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vitória Relativa, Derrota Esmagadora

Feitas as Legislativas… PS ganha as eleições com uma percentagem de 36,6 (96 deputados) , PSD vem em segundo lugar com 29,1 (78 deputados), CDS-PP passa a ser a terceira força política com 10,5 (21 deputados), BE aparece em quarto lugar com 9,9 (16 deputados) e a CDU passa a ser a quinta força política com 7,9 (15 deputados).
Para Ferreira Leite “chegou a hora da verdade”, como lemos nos seus cartazes, e a senhora teve apenas mais sete mil votos que Santana Lopes, senhor que garantiu ao PSD o pior resultado de sempre e nem sequer se rebaixou a ir dar um ar de sua graça no hotel da Avenida da Liberdade onde decorreu a noite eleitoral do PSD. Luís Filipe Menezes, na sua boa educação e decência de sempre, teve a cortesia de dizer: “Tudo farei para que o próximo líder seja alguém que represente o país novo, moderno. Alguém jovem, arejado, fresco.” Se eu fosse a ex-ministra da Educação e das Finanças, Manuela Ferreira Leite, tê-lo-ia deitado no meu colo e dado umas boas palmadas naquele rabiosque de Menezes para aprender a ter boas maneiras e a respeitar os mais velhos.
Mighty Socrates bem que pode festejar com alegria: “Esta foi uma vitória da decência e da elevação em política. A nossa democracia respira bem e dá sinais de vitalidade.”: disse para todos os que quisessem e não quisessem ouvir (leia-se Manuel Ferreira Leite e Cavaco Silva). E, em relação à vitória do PS, apenas tenho algo a dizer para quem ainda não sabe: pela mão do PS entrará no Parlamento o primeiro deputado assumidamente homossexual, Miguel Vale de Almeida, eleito por Lisboa. Acho que foi a única coisa que me fez sentir satisfeita por saber.
“No Domingo seremos muito mais.” E não é que foi verdade? Valeu a pena o Paulinho ter tirado umas férias para o bronze e para o branqueamento da dentadura (ele é o verdadeiro político tunning), valeu a pena ter amuado por não lhe terem dado os 10% há quatro anos atrás, porque o povo português tem memória de peixinho (olha uma alga, olha uma alga, olha uma alga…) e resolveu dar-lhe agora os 10% como recompensa. Tão feliz que estava que nem conseguia disfarçar o sorriso, tinha uns olhos capazes de alumiar uma aldeia inteira, começou a discursar antes de o PM terminar o seu discurso de vitória no Hotel Altis.
Ora, e o caro Louçã… Estou em crer que enfrentará o pior período político da sua vida, isto apesar de ter duplicado a sua representação para 16 deputados. Como escreveu Pedro Tadeu no Diário de Notícias: “Ganhar é uma grande maçada”. Uma coisa é ajudar a aprovar uma lei sobre o casamento homossexual, outra coisa é nacionalizar a Galp ou a EDP. Aliado a este jogo de cintura exigir-se-á ao Louçã o alargamento da garganta de forma a engolir os sapos que já se enfileiram e, acima de tudo, ter o Paulo Portas não só em frente, como à frente.
Jerónimo de Sousa de certeza que chupou uns bons Kompensan antes de discursar e eu consigo entendê-lo, que também eu sofro muito do estômago, infelizmente. A ele será exigida a mesma garganta e o mesmo jogo de cintura que a Louçã, mas como Jerónimo e Louçã não se comem, até será interessante ver que novas invenções brotarão das bancadas do Parlamento.
Feitas as Legislativas, venham as Autárquicas!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rosa Choque

"Algum desgosto prova muito amor, mas muito desgosto revela demasiada falta de espírito." - William Shakespeare

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Boletim de Vacinas

Hoje, quando acabei de subir as escadas que me conduzem à entrada da porta do meu apartamento no segundo andar e tirei a carteira para passar o passe de forma a abrir a porta, percebi que algo estava realmente errado. Tive de me sentar nas escadas do prédio para me rir sem cair! No Domingo já me devia ter realizado disso depois de ter dito que 8+8 eram 10, mas mesmo assim quis acreditar que não enganando-me a mim própria: isto é cansaço… se calhar foi má ideia não ter férias este ano… Mas a verdade é que “algo” não pode estar bem. Tem sido um ano louco e sei que é irracional desejar que o ano vire, mas… Bem, eu não preciso da viragem do ano, na verdade só preciso da viragem do mês. Tudo será diferente, mais uma vez! Todos os meses a minha vida tende a mudar radicalmente e como eu gosto disso. Mas apesar de a minha vida mudar, as coisas à minha volta parecem sempre as mesmas, as pessoas sempre as mesmas, imersas na sua bílis negra.
Depois do pânico, da revolta, do medo e finalmente da aceitação do cancro, do tumor maligno que ia de certeza acabar comigo em menos tempo que tinha previsto… tudo se desmancha e tudo volta a ser mais do mesmo. Quase que teve piada! Podemos brincar umas com as outras dizendo que é a senilidade ou a menopausa que chegaram mais cedo, mas sabemos que estes 27 anos, na realidade, correspondem a muitos mais. Os anos de vida pesam-se em dor e quando penso nisso até custa a acreditar em tudo o que já vivemos, tudo o que já passámos, tudo o que já vencemos e alcançámos. Foi muito mais do que alguma vez acreditaria ser capaz de abarcar, tenho orgulho em mim por ser muito mais do que alguma vez acreditaria.
Passadas as águas, o que mais custa é perder as pessoas. Há pessoas da minha vida de quem me lembro todos os dias. Para uma pessoa tão distraída como eu, este é fenómeno exuberante! Mas é verdade, a injustiça da falta, a dor da ausência são coisas que não me passam. Tatuam-me de verdade… Um dia, fico cega com tanta coisa que vejo sem estar na minha frente!
Mas todos os dias são bons, todos os dias são saborosos! Uma viagem a Sete Rios e descobrir um alfarrabista que afinal era tudo menos desconhecido, apanhar o conhecido suburbano até ao Oriente e ver o pôr-do-sol. Sintra, teatro, cinema, jardins, Lisboa INTEIRA para mim, coisas novas, pessoas novas, experiências novas, todos, todos os dias. E, no entanto, se puder não abdicar da mesma esplanada vermelha onde tomo o café da tarde todos os dias… não abdicarei nunca! O paradoxo entre o prazer do tudo renovado e o prazer do conhecido e seguro. Saber que posso tentar o Sol a derreter as minhas asas e saber que lá em baixo estarão os de sempre para me agarrarem.
A minha vida é uma maravilha, depois da sombra da morte ter passado, parece que só coisas boas chegam a mim. Olho para os outros, vejo-os na minha vida antiga: o trabalho de sempre, a rotina de sempre, as pessoas de sempre com as conversas de sempre. Pessoas que me deixam, pessoas que me fogem, pessoas que me desiludem, casamentos que ruem, amizades que se desfazem, namoros que me horripilam… vidas que acabam… Na minha fase boa em que tudo é novo e todos os dias bebo em golfadas a surpresa, o inesperado, a independência, que me bebo a mim própria mais eu em todos os extremos que nunca fui. Eu, eu, eu em todas as minhas vertentes puras e extremistas e como nunca mais quero deixar de ser EU!
Mas depois do meu dia em que fui rainha no meu mundo de fantasia, heroína do meu Destino, dona do meu querer… nada me sabe tão bem como te encontrar, como sentar o meu à vontade à boca de cena contigo, como poder abraçar-te e ter a certeza absoluta que vou sentir o teu Boletim de Vacinas no bolso direito interior do teu casaco.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Engano

Não era de desistências. Sabia que algures, pendurada nos varais do futuro, estava a solução. Por ora, receita simples: esperar e recordar. Tudo começara naquele dia, como todos os outros dias, naquela hora de almoço, como todas as outras horas de almoço.
Chegara atrasado ao emprego porque tinha passado antes pela churrasqueira. Ao chegar a hora de almoço, dirigi-me ao parque de estacionamento, tirei o pacote de dentro do carro e segui para o refeitório.
Ninguém esperava por mim, ninguém esperava pelo almoço que trouxera. Parado no meio do refeitório, olharam-me como se fosse repulsivo. Dei por mim, com o pacote na mão a enjoar-me com o seu cheiro a carne, a entrar progressivamente em pânico ao mesmo tempo que entendia o meu engano.
Revivi: a manhã tinha sido maquinal, como todas as outras manhãs. Mas só agora via! O lugar era parecido, mas não era o mesmo. As pessoas eram parecidas, mas não eram as mesmas. Quase a gritar conclui que me enganara. Saí quase a correr do refeitório, entrei no carro e fiz de volta o caminho até casa apenas com a angustiante questão a bradar dentro da minha cabeça: Onde é que me enganei?
De volta a casa. O mesmo caminho de todos os dias. Saí do carro, tirei a chave do bolso do casaco, afundei-a na fechadura e não rodou. Insisti escusadamente. Não rodava, a porta não abria. Descontrolados pelo pânico, os meus olhos escorreram água. Foi então que vi a casa. Era parecida, mas não era a mesma. Não era a minha casa. Sentei-me no degrau da porta. Estava perdido… Mas onde é que me enganei? - perguntava-me incessantemente.
Aquela era parecida, mas não era a minha vida. Onde é que me enganei? Acordei e não encontrei a minha vida. Por que porta havia eu entrado? Tudo em redor me agoniava, a perplexidade nauseava-me.
É necessário que me concentre e que pense. Que ache a resposta, que ache o momento em que a memória foi desacertada.
Onde me enganei eu?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Viaje com a Carris

Já começou uma das minhas alturas preferidas: as eleições. Todo o país está a ser redecorado pelas cores partidárias e suas mensagens. Em suma, recomeça a palhaçada!
PS estima gastar 5,54 milhões de euros com a campanha eleitoral para as eleições legislativas e o PSD tem orçamento de 3,34 milhões. Não façamos contas ao dinheiro pois a campanha política é assunto sério e o futuro PM deste país é assunto ainda mais sério. Em vez de pensarmos no dinheiro que é gasto em cartazes e em toda a propaganda, vamos antes centrar-nos nessa propaganda e divertirmo-nos com ela.
Para minha grande alegria, reparei há dias que podemos contar com os cartazes de um novo partido: o MMS. O presidente do Movimento Mérito e Sociedade (MMS) pediu aos eleitores para mandarem os principais líderes políticos "para a Conchichina" nas eleições legislativas, apelando à penalização da "política cansada e inoperante". Como sabemos, “a 'Conchichina' é um país fictício que os portugueses têm no imaginário como o desterro", disse à Lusa o presidente do MMS, Eduardo Correia, para quem "é necessário mandar esta gente embora, para bem longe daqui" para "reformular profundamente a sociedade e a política portuguesa". Estes “novos” partidos que insistem em me fazer sorrir, podem criar uma certa confusão na cabeça dos demais, como aconteceu com uma inocente idosa que queria saber se este é "aquele partido da ex-mulher do Sousa Tavares", numa referência a Laurinda Alves, do recém-criado MEP.
Mas creio ainda ser cedo e tenho a íntima esperança que o melhor esteja a ser guardado para o fim. É verdade que adorei ver os cartazes em que Sócrates com seu olhar à Mona Lisa intimava telematicamente os contribuintes a votarem nele ao mesmo tempo que era observado de sorriso nos lábios e nos olhos por uma jovem moça… verde! Qual é que foi a ideia de colocarem a rapariga verde? É certo que todos os cartazes socialistas aparecem em tons da digna bandeira portuguesa, todos percebemos isso, mas estou em crer no meu íntimo que aquela se trata de uma clara referência ao Hulk. Se um Hulk feminino gosta do Sócrates, por lógica todo o mulherio gostará do Sócrates.
Todavia, tenho que abrir o meu coração e fazer-vos uma confissão. Encontro-me profundamente desiludida com a campanha do PSD. Mas o que é aquilo? Um partido que não tem ideologia, nem liderança, nem programa (sim, as 40 páginas não foram apenas para fazer frente às 120 páginas do programa socialista! Eles não têm mesmo mais nada a dizer: acreditem) seria de esperar que engendrasse uma boa campanha política! A Ferreira Leite numa tentativa de transparecer um ar confiante e simpático que resulta num raro esgar ao lado de frases supostamente ditas pelos portugueses, nem sequer me entretém. Ora francamente! “Portugal não pode ficar hipotecado”? Mas quem é que foi o tuga que pegou no telefone e ligou para a Linha da Amizade PSD e disse: “Eh pá, hipotecar Portugal era uma ganda má onda!”. Não creio! Como não creio em: “Prometam só o que conseguirem cumprir” pois acredito que não há português ingénuo o suficiente para dizer isto a um político, nem creio em “Olhem por quem mais precisa”. Afinal, alguém tem que pagar as contas do Estado e todos nós sabemos quem é que as paga, não é verdade?
Tenho esperança nos novos cartazes do BE pois “18 anos é muito tempo” é fraquíssimo tendo em conta que é um comentário bloquista e tenho sempre muita confiança nos cartazes do CDS-PP. Depois das suas perguntas afirmativas, tudo se resumiu à cara do Paulo Portas expressando um ar de grande seriedade: “Há cada vez mais pessoas a pensar como nós”. É engraçado que eu não consigo perceber se isto é uma afirmação, uma exclamação, uma interrogação ou uma ameaça… Bem, mas faz-me sorrir, isso sim.
Até agora os melhores cartazes em tons saudosamente nacionais do PS têm sido os mais vistos e, perdoem-me a imparcialidade, os melhor conseguidos. Sobre o lema “Avançar Portugal” e “Juntos Conseguimos” proclamam a todos os portugueses os bens atingidos: medicamentos genéricos, aumento do salário mínimo e crianças a aprender inglês. Devo estar a esquecer-me de algumas, mas como eles também se esqueceram de outras (nomeadamente: Correia de Campos, Mário Lino, Maria de Lurdes Rodrigues e Manuel Pinho) ficamos todos quites.
Gosto de passear de autocarro por Lisboa, foi viajando com a Carris que percepcionei toda esta maravilha legislativa. As histórias são mais que muitas dentro e fora do autocarro e preenchem-me o dia com devaneios, utopias, histórias de imensurável amor.
Hoje foi o dia de escrever sobre o meu amor pela política!