quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tema para Bernardo Sassetti

A caminho da essência eu verifico a cadencia
Da matéria que se mostra mim livre de regência
Mato a dor de sentir demais, de amar demais, de pisar demais
Em convenções fundamentais
Encho a cabeça mas não há carga nos contentores
Digo olá aos meus amores, bem-vindas novas cores
Da utopia eu crio filosofia todo o dia quando a apatia
Senta no meu colo e arrelia
Eu faço a liturgia da verdadeira alegria
Musica nos meus ouvidos agua benta em benta pia
A caminho com prudência eu não esqueço a violência
Que levou alguns dos melhores da minha existência
Mata a saudade de curtir demais,de tirar demais, de pisar demais
Em convenções fundamentais
Eu uso o tacto pra trazer a agua da minha fonte
Hoje em dia nem sequer preciso atravessar a ponte
Tenho a palavra escrita a tinta negra na minha pele
Menina dos meus olhos, doce como o mel
Palavra puxa palavra põe-me disponível pra amar
Tudo aquilo que me seja sensível
E não são poucos aqueles que eu quero sem sequer os poder ver
Foi tanto o que me deram para nunca mais esquecer
Palavra de honra, guardo a palavra no meu bolso
Na parede, no conforto de uma cama de rede
Palavra de honra

terça-feira, 20 de julho de 2010

Capaz de emborcar uma inteirinha de absinto!

Palavras insípidas, intenções falsas, pensamentos descontrolados e sentimentos angustiantes que levam a respostas insípidas...
Gentilmente, quando a noite cobre o Homem, eis que o meu cavaleiro fantasma vem ter comigo. Há tanto tempo que não o via... Julgava-me livre dele, melhor, julgava a todas as suas perguntas ter respondido de uma vez por todas. Mas não, as mesmas perguntas me traz ele, agora mais impaciente pelas respostas do que antes. Sempre o mesmo ritual, sempre a mesma conversa e sempre a mesma angústia que me corrói o interior, o desespero de não entender o que ele me diz, de não saber qual é a resposta que ele quer que eu lhe dê!
Sinto as saudades a escorrerem para dentro de mim, a pesarem-me no interior e a minha força a sumir vertiginosamente. Sinto a saudade a amargar-me a boca, a arranhar-me a garganta, a arrepiar-me a pele e a empurrar-me os olhos para o chão.
Meu querido, meu sol, minha paixão, minha ternura... meu amor! Onde estás tu?
Volta para mim! Volta a dourar os meus dias, volta a acalmar as minhas noites... Traz a minha parte boa de volta e faz-me feliz como só tu soubeste fazer...
Mas enquanto tu não vens, amor, meu cavaleiro fantasma, senta-te aqui junto a mim, dediquemo-nos ao que aqui te traz...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Melodramatismo

Gostava de desaparecer... Aniquilar a minha existência maldita e calar, de uma vez por todas, esta falsa voz repugnante que me murmura na nuca: “És uma merda, és uma merda, és uma merda...”
Se eu desaparecesse, levaria comigo todo o mal do mundo, todo o horror que dissemino, toda a dor que te causo. Se eu desaparecesse, deixariam de existir todos os problemas que te atormentam, ficarias livre para o resto da tua vida da existência miserável para a qual te arrasto...
Um raio que me caísse em cima, uma dor no peito que me fechasse os olhos, uma pancada na cabeça que calasse todas estas vozes...
Gostava de desaparecer, nunca mais ver os que amo, nunca mais sentir posado em mim o olhar de seda dos que me amam. Renunciar a todo o bem possível e imaginário de alcançar nesta vida e, assim, definitivamente, renunciar a todo o mal!
Loucura, febre, vómitos, insónia e mal estar... Uma ânsia que tem tanto de desejo como de medo. O descontrolo de todas as emoções a perda de todas as faculdades... e sempre, sempre esta maldita voz!
Ou então, deixar de ser eu. Encontrar normalidade, equilíbrio na minha vida. Parar de vos perder e de me perder a mim! Deixar de ser eu, sem perder a minha consciência... Paradoxo!
Mas quem, meu Senhor, quem na sua infinita bondade e paciência pode suportar amamentar com benignidade quem lhe trinca os seios?!
Quem, no auge da sua essência, poderá alguma vez recolher-me, aceitar-me e ainda amar-me?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

It'Dark, It's Cold, It's Winter

Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.

Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.

Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu

A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o esperma que te dou, o desespero.

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'