Não era de desistências. Sabia que algures, pendurada nos varais do futuro, estava a solução. Por ora, receita simples: esperar e recordar. Tudo começara naquele dia, como todos os outros dias, naquela hora de almoço, como todas as outras horas de almoço.
Chegara atrasado ao emprego porque tinha passado antes pela churrasqueira. Ao chegar a hora de almoço, dirigi-me ao parque de estacionamento, tirei o pacote de dentro do carro e segui para o refeitório.
Chegara atrasado ao emprego porque tinha passado antes pela churrasqueira. Ao chegar a hora de almoço, dirigi-me ao parque de estacionamento, tirei o pacote de dentro do carro e segui para o refeitório.
Ninguém esperava por mim, ninguém esperava pelo almoço que trouxera. Parado no meio do refeitório, olharam-me como se fosse repulsivo. Dei por mim, com o pacote na mão a enjoar-me com o seu cheiro a carne, a entrar progressivamente em pânico ao mesmo tempo que entendia o meu engano.
Revivi: a manhã tinha sido maquinal, como todas as outras manhãs. Mas só agora via! O lugar era parecido, mas não era o mesmo. As pessoas eram parecidas, mas não eram as mesmas. Quase a gritar conclui que me enganara. Saí quase a correr do refeitório, entrei no carro e fiz de volta o caminho até casa apenas com a angustiante questão a bradar dentro da minha cabeça: Onde é que me enganei?
De volta a casa. O mesmo caminho de todos os dias. Saí do carro, tirei a chave do bolso do casaco, afundei-a na fechadura e não rodou. Insisti escusadamente. Não rodava, a porta não abria. Descontrolados pelo pânico, os meus olhos escorreram água. Foi então que vi a casa. Era parecida, mas não era a mesma. Não era a minha casa. Sentei-me no degrau da porta. Estava perdido… Mas onde é que me enganei? - perguntava-me incessantemente.
De volta a casa. O mesmo caminho de todos os dias. Saí do carro, tirei a chave do bolso do casaco, afundei-a na fechadura e não rodou. Insisti escusadamente. Não rodava, a porta não abria. Descontrolados pelo pânico, os meus olhos escorreram água. Foi então que vi a casa. Era parecida, mas não era a mesma. Não era a minha casa. Sentei-me no degrau da porta. Estava perdido… Mas onde é que me enganei? - perguntava-me incessantemente.
Aquela era parecida, mas não era a minha vida. Onde é que me enganei? Acordei e não encontrei a minha vida. Por que porta havia eu entrado? Tudo em redor me agoniava, a perplexidade nauseava-me.
É necessário que me concentre e que pense. Que ache a resposta, que ache o momento em que a memória foi desacertada.
Onde me enganei eu?
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