Evitei escrever porque sei que a única coisa na minha cabeça serias tu! Só conseguia pensar em ti… Enquanto trabalhava, comia, tentava dormir…
Agora estou mais calma. O pânico acalmou e eu acalmei também. Agora tenho-te aqui ao pé de mim, ouço-te a dormir na paz do homem bom, puro e valente que és. Nunca te disse o quanto te amo, nunca to vou dizer, estou certa, mas também sei que o adivinhas. Há coisas para as quais nunca estaremos preparadas por mais que as tentemos meter na cabeça ou na alma. Nunca vou estar preparada para te perder e sei-o tão bem agora como sempre o soube! Pensava, e ainda penso, que esse sentimento não passa de egoísmo. Quando não queremos perder alguém, não é pela pessoa que tememos, é por nós! Nós é que sofremos a sua ausência, não o oposto. Aliás, nunca o oposto! E admito que muito menos quero perder na minha vida alguém que me ama por aquilo que eu sou. Sem complexidade, drama, teatro, sem nada mais do que aquilo que eu simplesmente sou. É um grande privilégio ser amada apenas por quem sou, pelo que sou (que na verdade é tão pouco…) e sinto muita gratidão por tamanho sentimento, também não é que tenha muita gente capaz de tamanha proeza.
Já sou grande o suficiente para saber que tudo passa… Deixei de contar o sete, como deixei de contar o doze, como deixei de contar o quinze e como deixarei de contar o vinte e quatro… Tenho a certeza disso, que vencerei tudo, vencerei todos e serei sempre a primeira a sair vitoriosa seja de que guerra em que me metam! Mas há coisas que nunca se esquecem, infelizmente! Há mágoas que nunca passam, palavras que nunca se apagam, gestos que nunca se despegarão da nossa pele. Infelizmente, sou uma das pessoas que nunca esquece. Pensava que isso era mau, amaldiçoava essa “memória” e pensava que seria tão bom se esquecesse, se deixasse de me importar… Mas quando reparo bem nos que esquecem e nos que deixam de se importar, percebo como estou a ser ridícula. Invés de uma maldição o que eu tenho é uma bênção! Se me dizem que mais nada há a descobrir, mais nada a falar, mais nada a escrever porque tudo já foi dito antes, só me posso rir da ingenuidade, ter pena da involução! Porque o meu maior mistério sou eu mesma e esse estou tão longe de desvendar. Olhar para mim, entender-me, prever-me, conhecer-me nunca me vai fazer conseguir fazer perceber os outros, prevê-los, mas isso nem sequer se coloca como um problema, bem mais se assemelha a um desafio, a um grande desafio.
Agora que estás a dormir e eu consegui finalmente a paz para conseguir escrever, penso em como vejo as coisas de forma tão diferente e, no entanto, tão mais severa do que já via antes. Os que antes desprezava, agora são-me indiferentes, a falta que me angustiava, dá-me vontade de troçar agora, a ignorância de que desdenhava é agora alvo da minha pena. Dá-me gozo ver e ouvir os que me pre-assumem e que não conseguem alcançar nunca mais do que o vislumbre das sombras na parede para onde lhes viraram a cara, um gozo tão diabolicamente delicioso que tenho medo que se torne um vício.
Ter-te quase perdido que vales tanto para mim, que verdadeiramente sustentas a minha vontade de viver, só me levou a conhecer-me ainda melhor e a descobrir dentro de mim uma verdade: o tempo que eu perco com quem quero acreditar que vale a pena. Já o disseste antes, lembro-me, agora é a minha vez de o dizer: não perco mais tempo com quem não consegue interessar.
Bem, eles, na verdade, não interessam!